Acto de coragem?

Por onde começar.... talvez vos dizer que normalmente não sou uma pessoa que gosta de chamar atenção a si própria mas como criei o blog para vos partilhar minha vida, vou lhes contar um acto de coragem de uma rapariga de 15 anos.

Vinte anos atrás, num dia lindo em pleno Verão, acordo com os berros da minha mãe no rés do chão, gritava - "Isabel, acorda pois já é 9hras e tenho que sair!". Ok, já perceberam que a moça de 15 anos sou eu....faço a rotina normal de cada manhã lavar, vestir, comer, escovar os dentes e lá vou eu trabalhar no Ponto à Vestir ( a creche como dizia a minha mãe mas isso é outra história lol ) Depois do almoço minha mãe já de regresso à casa e eu novamente sentada uma cadeira atrás da porta a ler o Diário de Notícias, ouve-se uns gritos e um choro arrepiante de uma criança... a criança foi atropelado pelo um carro pesado, esta criança brincava com os pneus do carro que se encontrava estacionado em frente da casa da senhora que gritava. Os vizinhos correram para a estrada a tentar aperceber o que se passava, o meu olhar de choque ao ver uma criança com ferimentos na cabeça e corpo, e para quem que não é médico parecia gravíssimos, a mãe do menino com mais duas filhas pequenas, olhou para um senhor pediu-lhe o carro para levar seu menino as urgências mais próxima ( 30mins de carro ). A senhora sem saber que fazer virou para minha mãe e eu, com as lagrimas a cair, implorou-me-" Por favor, vá com ele e cuida bem dele!".

Mesmo com a cabeça a andar de roda e ainda sem me aperceber o que estava acontecer, entrei no carro com o senhor e um rapazito que levantou o menino do chão. Ao chegar as urgências, fiquei sempre colada ao menino como a mãe me pediu, nunca antes senti um apelo de carinho como nesse dia, pois o menino de 3 anitos, assustado porque não reconhecia ninguém a sua volta senão uma cara familiar na porta, esticou seus abraços para se agarrar a mim, a enfermeira virou-se e disse-"Entra e ajudo-o acalmar". Nos meus braços colocaram a volta da sua cabeça, o mais rápido possível, uma gaze e colocaram-nos uma ambulância para nos levar ao hospital. Uma hora e trinta minutos depois entravamos nos corredores do hospital, o menino que acabou por adormecer no meu colo, acordou ao ver médicos e enfermeiras a lhe dar atenção. E todo correu das melhores formas. O menino hoje é um homem forte, educado, e amigo.

Lembro -me no dia em que meu filho morreu de atropelamento no mesmo sítio ( é inacréditavel, não é?) as palavras que ela me murmurro nos meus ouvidos... "Agradeço com todo meu coração ter salvo meu filho e lhe dar o carinho que ele pediu mas doí e sofro por não ter tido a mesma sorte".

É verdade que não tive a mesma sorte de salvar meu filho, mas sei que ele era feliz ao meu lado!

DEDICO ESTE TEXTO AO MEU FILHO TIAGO ( 20/06/1997-12/01/2001)